Autores: Joana Topa


Artigo | Topa, J., Nogueira, C. & Neves, S. (2016). Vivências de mulheres brasileiras nos serviços de saúde materna. Género & Direito, 5(2), 25-51. DOI: 10.18351/2179-7137/ged.v5n2p25-51


Resumo: O número de mulheres a viver a maternidade em contexto multicultural e migratório é, atualmente, uma realidade com uma expressão reconhecida. Todavia, o conhecimento em torno da qualidade e da eficácia do acesso das imigrantes aos cuidados de saúde, é ainda diminuto em Portugal (Fonseca et al., 2007). Situado em pressupostos teóricos e epistemológicos críticos oferecidos pelo construcionismo social, o presente estudo, de natureza qualitativa, pretendeu analisar e caracterizar, através de entrevistas semiestruturadas, os discursos, perceções e vivências de dez mulheres brasileiras que estavam grávidas e/ou foram mães em Portugal acerca dos cuidados de saúde materno-infantis recebidos no país. Como método de análise recorremos à análise temática (Braun e Clarke, 2006) sendo esta complexificada com uma análise em profundidade auxiliada pela análise crítica do discurso (Willig, 2003, 2008). Os resultados mostram que, apesar de gratuitos, o acesso aos serviços de saúde para vigilância de gravidez são tardios. Para isso contribuem as experiências vivenciadas nos diversos contextos sociais (e.g., discriminação) bem como os múltiplos e diferenciados obstáculos que encontram (e.g., económicos, burocráticas) quando acedem ou tentam aceder aos serviços. Embora a maioria faça uma apreciação positiva dos cuidados recebidos, algumas queixam-se da interpretabilidade da lei e sua usurpação por parte de quem as recebe nos serviços, bem como alertam para a insensibilidade demonstrada pelas/os profissionais face à diversidade cultural e a constante discriminação preconizada. Face às dificuldades que encontram, estas mulheres vão alimentando uma noção de si como pessoas com menos direitos, o que as leva conformarem-se com as práticas ocidentais de cuidado e a silenciar-se face às práticas discriminatórias a que são sujeitas. As estratégias individuais utilizadas parecem não constituir qualquer tipo de ameaça ao grupo hegemónico, contribuindo para a manutenção do status quo e da desigualdade (Topa et al., 2013).


Consultar: https://vlex.com.br/vid/vivencias-mulheres-brasileiras-servicos-701318097